Correio Popular Notícia


Autor: Maurino Nobre do Nascimento *
Viva Guajará-Mirim
Dom Rey encarou meu pai e disse: dê esse comprimido à criança! Se ela não morrer em cinco minutos, dê esse outro, que ela não morrerá tão cedo! Um dos sete filhos do meu pai, nasceu exatamente às 11 horas de uma manhã ensolarada, e naquele momento, um avião Douglas DC-3, da Cruzeiro do Sul, cruzou por sobre a pequena casa onde a criança acabara de nascer, alinhou com a pista e logo pousou na pequena vila, à margem direita do caudaloso Rio Guaporé, no então Território Federal de Rondônia. A parteira que o ?pegou?, dona Baldomera, de nacionalidade boliviana, disse a meu pai: - ?Don Hijínio, ganaste un hombre! El há venido de avión e el es mui hermoso?. De fato, diziam os mais antigos, que criança era muito bonita, e saudável. Mas isso durou somente até próximo ao seu primeiro ano de vida quando a família se mudou para Guajará-Mirim. Alí, começava toda uma epopeia de lutas e sofrimento, pois a criança, foi acometida de uma ingrata enfermidade, sem que um diagnóstico preciso fosse dado. Foi emagrecendo, definhando, não andava, não falava, muito pouco se alimentava, os olhos, grandes como de coruja caburé, pernas de cambito, chegando num ponto em que se costuma dizer: ficou só pele e osso. Algumas amigas e parentas, diziam à mãe da criança: - entrega esse menino a Deus. Mas os pais do menino continuaram lutando. Importunavam aos médicos, Dr. Jader, Dr. Fialho (talvez fossem esses à época), e contavam com a abnegação das irmãs, freiras católicas, que bondosamente aplicavam injeções receitadas por eles, com muita dificuldade, pois músculos quase não mais havia. Então, chegou o dia em que o veredicto foi dado pelos doutores: - Seu Higino, leve seu filho pra casa, pois ele tem no máximo, um ou dois dias de vida. Meu pai, como último recurso, lembrou-se do seu velho amigo, que estava na cidade: Dom Francisco Xavier Rey, bispo de Guajará-Mirim, que além de teólogo, possuía muitos outros atributos, dentre eles, médico. Levou a criança consigo à Prelazia e em lá chegando contou toda a história do infortúnio e insucesso. O bispo o ouviu atentamente, então de repente disparou: - Pára! Pára! Higino! Pegou dois comprimidos grandes, brancos, encarou meu pai nos olhos e disse: - Dê este comprimido à criança. Se ela não morrer em cinco minutos, dê o segundo, que ela não morrerá tão cedo! Meu pai, regressou com a criança no colo a casa, e lá, sob protestos da mãe do menino, pois dizia: - Você vai matar o nosso filho!, meu pai deu o primeiro comprimido. A criança, a princípio, não deu sinal de vida, mas passados cerca de cinco minutos, abriu um dos olhos, choramingou, e o pai tascou-lhe o outro ?comprimido?. Pois bem, essa criança, nascida na pequena Vila de Costa Marques, naquele 28 de junho de 1957, se chama Maurino Nobre do Nascimento, e como vaticinou Dom Rey, está vivinho da silva. Graças ao Bom Deus, e graças a Dom Rey, que salvou minha vida! Embora hoje eu siga outra vertente religiosa, Tenho uma dívida de gratidão aos irmãos católicos, especialmente às irmãs do Colégio Nossa Senhora do Calvário, dentre elas as irmãs São Rafael, Maria Agostinho, Maria Antonieta e Maria Celeste, que, de acordo com narrativas de minha saudosa mãe, Aurora Nobre do Nascimento e os relatos da professora e escritora guajaramirense, Izabel de Oliveira Assunção, no seu livro Memórias de Monsenhor Francisco Xavier Rey, e pelos meus cálculos, foram algumas delas que cuidaram de mim nos momentos críticos daquele estado que descrevi. Quanto a Dom Rey, ele é certamente um dos personagens mais ricos da história guaporeana e de Guajará-Mirim, que a meu ver merece ser estudado com profundidade, e dará dissertações de mestrado e teses de doutorado. Talvez, na minha simplicidade de caboclo guaporeano, eu me anime a escrever algumas linhas sobre esse grande personagem, passagens pitorescas, e algumas curiosidades sobre ele, pois meu pai, que privava da sua amizade, me ?cantou algumas pedras?. Viva Guajará-Mirim! E até a próxima. * O autor mora em Ji-Paraná faz 22 anos. É Pedagogo, Orientador Educacional, Jornalista, Poeta e Escritor. É também entusiasta e pesquisador da História de Rondônia. Tem um livro de Poesia publicado no município, e está em negociação para o lançamento de seu segundo trabalho poético, por uma grande Editora no Estado de São Paulo. Acredita que sem Deus, não há sentido para a vida....


Compartilhe com seus amigos:
 




www.correiopopular.com.br
é uma publicação pertencente à EMPRESA JORNALÍSTICA CP DE RONDÔNIA LTDA
2016 - Todos os direitos reservados
Contatos: redacao@correiopopular.net - comercial@correiopopular.com.br - cpredacao@uol.com.br
Telefone: 69-3421-6853.